Review  

Encerrando a era 8-bits com chave de ouro

Dragon Quest IV

Mesmo sofrendo muita pressão pelo sucesso de seu antecessor, Dragon Quest IV consegue superar aquele que já era considerado lenda.

  • Nome: Dragon Quest IV
  • Plataforma: NDS
  • Lançado: 16/09/2008
  • Finalizado: 06/08/2017
  • Duração: 37 Horas

intro

Dois anos se passaram desde o último lançamento da série, o ano era 1990 e o novo Dragon Quest foi lançado, chegando 2 anos mais tarde no Ocidente.

É extremamente importante citar que este jogo foi o responsável pelo não lançamento de nenhum Dragon Quest no ocidente por 7 anos, e também pelo encerramento da Enix's Enix America Corporation em 1995 devido às baixas vendas do título. Basicamente Dragon Quest não vendeu muito no ocidente e a Enix desistiu do mercado.

Quer dizer que este seria um título ruim? Isso é o que vamos ver.

Lembrando que estarei comentando este título, tendo como base o ano em que ele foi lançado, além de que farei muita comparação com os jogos anteriores, então se ainda não leu as análises, pode seguir este guia aqui.

Dragon Quest IV Personagens


Parte Boa

História contada em capítulos

Dragon Quest IV conta a história de um mundo totalmente novo, que não está relacionado com a saga de Loto. Dessa vez os produtores inovaram e resolveram executar a narrativa em forma de capítulos, sendo 5 no total (mais 1 capítulo extra do remake), onde cada capítulo jogamos de maneira diferente.

No capítulo 1 jogamos com Ragnar, que é um soldado/guerreiro que tem a missão de investigar o desaparecimento misterioso de crianças em seu reino. Já no capítulo 2, jogamos com Alena, que é a princesa/lutadora que quer sair pelo mundo para testar a sua força, mesmo contra a vontade de seu pai.

No capítulo 3, jogamos com Torneko, que é um mercador que deseja abrir a sua própria loja. No capítulo 4, jogamos com Maya e Meena, que são irmãs e juntas querem vingar a morte de seu pai. E por fim, o capítulo 5 é o capítulo do Herói.

Como podem ver, cada capítulo jogamos com personagens diferentes que têm objetivos diferentes. Pode parecer estranho, mas na verdade funciona muito bem pois a cada capítulo aprendemos a jogar com cada personagem, e depois de vermos a história única de cada um, passamos a nos importar com todos.

Outro ponto importante é que todas as pequenas histórias fazem parte de um mundo maior, onde tudo se conecta e faz com que o mundo realmente pareça vivo e apesar do Herói ser o personagem principal, o método da narrativa por capítulos faz com que todos os personagens se tornem especiais para o jogador.


Profundidade no roteiro

Já não se trata de ir derrotar o mal para salvar o mundo. De certa forma cada personagem tem seus motivos para seguir na aventura. Na verdade tudo tem um motivo.

A narrativa consegue criar um senso de urgência, e os eventos vão dando sequencia de forma que você quer saber o que vai acontecer, tornando este título extremamente interessante, de modo que você não querer parar de jogar para ver o que vem depois.

Até mesmo tentaram explicar as razões do vilão estar tomando a decisão de acabar com a humanidade. Digo tentando pois quem está acostumado com as narrativas dos jogos atuais, vai ver que o jogo não aprofunda muito a narrativa, mas ela existe, e melhorou muito comparado aos títulos anteriores.

Dependendo da onde você vai, e dos personagens que estiverem na sua party, os NPCs, e até mesmo alguns inimigos vão reagir de forma diferente. Quando você visita a aldeia de Maya e Meena por exemplo, se alguma das duas está no seu grupo, os NPCs vão perguntar como elas estão, vão dizer coisas sobre elas, o dono do inn vai deixar você se hospedar totalmente de graça, entre outras coisas.

Com certeza em termos de narrativa esse é o melhor Dragon Quest até o momento.


Role-Playing Game

Eu fiquei surpreendido como o jogo te coloca no papel do personagem, e para exemplificar melhor este conceito, gostaria de utilizar o Torneko como exemplo.

Torneko é um senhor de meia idade, que vive com sua esposa e filho, mas que nunca deixou de ter o desejo de ter sua própria loja.

Quando começamos a jogar com Torneko temos que ir até a loja de armas, onde somos apenas funcionários, e nossa missão é vender armas para os NPCs, onde podemos negociar os produtos, pois no final do dia recebemos um pequeno percentual por cada venda.

Ao fim do dia, já pela noite, voltamos para casa, onde sua esposa está te esperando sozinha, pois seu filho já está dormindo, e logo você também vai dormir pois no dia seguinte começará a mesma rotina de novo e de novo e de novo.

E essa rotina vai continuar, até que você, o jogador, decida alterar o seu próprio destino. Fazia anos que não me sentia na pele de um personagem, mas esse joguinho de 1990 conseguiu. E pelo visto não fui o único, pois Torneko ficou tão popular que começou a estrelar seus próprios jogos.


Mecânicas de Party

Diferente de Dragon Quest III, neste jogo não é possível escolher as classes dos personagens. Aparentemente este é um ponto negativo, pois em teoria diminuiria a estratégia do game, certo?

É aí que você se engana. Cada personagem de Dragon Quest IV tem sua própria classe, sua própria jogabilidade, mantendo dessa forma a mesma estratégia do jogo anterior, na verdade até mais balanceado, pois seria impossível colocar 4 personagens apelões da mesma classe para salvar a tua pele.

Apesar de somente 4 personagens poderem lutar ao mesmo tempo, existe uma opção no menu de batalhas de trocar determinado personagem. Está enfrentando um inimigo que só toma dano mágico? Troque seu lutador por um mago sem sofrer nenhuma penalidade por isso.

Todos os personagens reserva vão ganhar a mesma quantidade de experiência dos personagens que estão lutando, o que ajuda muito na hora que a coisa aperta. Caso os 4 personagens em batalha percam a vida, os personagens em reserva automaticamente assumirão o controle a batalha.

Se você é meio preguiçoso, existe a possibilidade de trabalhar com táticas, que faz com que o personagem da tua party ataque, ou cure, ou conserve mp automaticamente sem que você tenha que dar comandos a ele. Engraçado que na versão do Nintendinho você não podia comandar diretamente nenhum personagem secundário, algo que mudou na versão do remake o que facilita muito a nossa vida.

Existem personagens extras que você nunca controla, que entra para o grupo em determinadas partes da história para dar uma ajudinha na hora de enfrentar alguns desafios. É bem bacana pois isso cria uma variedade no gameplay, além de enriquecer o enredo da história.

Todos os personagens andam pelo mapa em forma de caravana, mas em algumas dungeons eles não podem ir com você, te obrigando a pensar quais personagens você deve levar contigo para enfrentar aquela determinada dungeon.


Outras mecânicas

Aqui temos uma sidequest que te permite recrutar pessoas e construir um vilarejo que você pode escolher o nome, algo muito parecido com o que vemos em Suikoden.

As apostas nas brigas de monstros voltaram, mas dessa vez você não aposta dinheiro, você aposta coins que podem ser trocados por prêmios, muito parecido com o que vemos nas séries de Pokémon. Existem outros minigames como caça níquel e poker, que também serve para juntar coins.

Em um momento na história você participa de um torneio de luta, algo que vemos em vários jRPGs hoje em dia, mas que até então não tínhamos visto. Seria uma influência de Dragon Ball?

Novamente você tem a possibilidade de voar pelo mapa, além de navegar pelos mares.

Algo que não comentei em Dragon Quest III, é que existe uma mecânica de encontrar moedas pelo mundo, e essas moedas você pode utilizar para trocar por itens.

O joguinho de tabuleiro foi retirado, ou melhor, nessa época não existia, pois foi um mini game do Dragon Quest V que adicionaram ao remake de Dragon Quest III, mas sinceramente não fez a menor falta.

Tem um determinado inn (talvez tenha outros) que se você passa a noite, você consegue acessar uma cutscene que explica um pouco mais sobre a história sobre o ponto de vista de outra pessoa que não posso dizer ou vai ser um baita spoiler. O legal é que você pode terminar o jogo sem nunca ver esta cena. Essa mecânica você também encontra em jogos da franquia Tales of.

Em determinado momento do jogo você é miseravelmente derrotado por um inimigo, e isso faz parte do roteiro. Essa é uma mecânica que vemos em vários jRPGs da atualidade, mas que na época era novidade.


Dificuldade e final

O grind ainda é necessário, mas comparado com os outros títulos da série, este é bem mais fácil. O jogo oferece um desafio, mas não teve nenhum momento que eu passei raiva, e isso pode ter sido por 2 motivos. Ou eu aprendi a grindar o suficiente para não sofrer em Dragon Quest (fiz grind por uns 40min), ou esse jogo realmente é mais fácil que os anteriores, principalmente pelas mecânicas de party.

É interessante comentar que o antagonista é praticamente o Sephirot em formato de pixel, e ele tem 8 formas na luta final. Não uma, nem duas, nem três, são oito overpower formas! Mas é divertido lutar contra ele.

E finalmente alteraram o final, apesar dele ser relativamente parecido com os finais anteriores, dessa vez eu fiquei satisfeito com o desfecho da história. Eu particularmente não conseguiria pensar em um final melhor, apesar de que Dragon Quest é muito mais sobre a jornada do que sobre o destino propriamente dito.


Dragon Quest IV Mapa


Parte Ruim

Não existem interações

Infelizmente não existe interações entre os membros da sua party na versão americana, ou seja, os personagens nunca conversam entre si. Eles viajam pelo mundo todo, nunca dão opiniões, nunca se metem nos assuntos uns dos outros, não interagem, o que mata um pouco a imersão.

O lado bom é que aparentemente este problema foi corrigido na versão de smartphones, mas no DS por alguma razão essa interação não existe, o que é uma pena.


Outros pormenores

A mecânica de ter que utilizar determinado item no boss final ainda existe. Mas como eu já estou acostumado, não tive problemas, mas se você é pego desavisado, vai passar muita raiva. Mas é claro que se você estiver devidamente preparado, isso não será um problema.

Não tem o lendário puffpuff!!


Dragon Quest IV Batalha


Conclusão

RankS

Fazia tempo que eu não me divertia tanto com um RPG e Dragon Quest IV superou todas as minhas expectativas.

Sua narrativa é simples, mas a diferença está no modo que ela é contada. É difícil entender como conseguiram espremer tanto conteúdo em um cartucho de Nintendinho. Com certeza esses dois anos de intervalo entre um título e outro, fizeram toda a diferença, e conseguiram fechar a era 8-bits desenvolvendo este que é simplesmente o melhor jRPG de Nintendinho que eu já joguei.

É claro que por eu ter jogado o remake do DS, obviamente o jogo está totalmente otimizado em comparação a versão original, mas não importa, porque toda a essência do original está ali, e da para ver que ele foi planejado para conseguir explorar todo o potencial do Nintendinho.

Vou falar algo polêmico aqui, pois eu sempre achei que Chrono Trigger era um sucesso por ser um Final Fantasy com design de Akira Toriyama. Mas depois de jogar Dragon Quest IV, eu claramente entendo que na verdade Chrono Trigger é um Dragon Quest com sistema de batalhas de Final Fantasy.

Resumindo, Dragon Quest IV superou qualquer expectativa que eu poderia ter, e com certeza merece a pontuação lendária.

Faça um favor a você mesmo e jogue este título agora!


 Sogoken
18/09/2017 
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