Conhecendo Dragon Quest III
Dragon Quest III superou todas as expectativas e é considerado por muitos como o melhor Dragon Quest de todos os tempos. A Hero Quest te convida a conhecer Dragon Quest III: The Seeds of Salvation.
Nome | Dragon Quest III | ||
Plataforma | Super Nintendo | Duração | 22 Horas |
Lançado | 06/12/1996 | Finalizado | 08/07/2017 |
Lançado em 1988 no Japão, esse foi o primeiro título da série que conseguiu vender mais de 1 milhão de cópias no dia de seu lançamento, e a polícia teve que trabalhar dobrado pois quase 300 estudantes foram flagrados matando aula neste mesmo dia, e para quem não sabe existe uma lei no Japão que proíbe os estudantes de andarem pelas ruas em horário de classe.
A comoção foi tanta, que existe uma lenda urbana que diz que tem uma lei onde Dragon Quest só pode ser lançado nos finais de semana para evitar que as pessoas deixem de ir trabalhar, mas por outro lado as coisas foram bem diferentes no ocidente, pois a tradução demorou 4 anos e o jogo só chegou como Dragon Warrior III em 1992 para o Nintendinho. Nessa época o Super Nintendo já havia sido lançado, e os números de venda de Dragon Quest III acabou ficando bem abaixo de outros títulos como Final Fantasy que saiu dois anos antes.
Como já falamos dos outros jogos de Dragon Quest, existem muitas mecânicas que não voltarei a repetir para que não fique repetitivo.
Anos antes dos acontecimentos do primeiro Dragon Quest, existia um malvado demônio chamado Baramos que queria destruir o mundo. O herói de Aliahan, conhecido como Ortega, atende ao pedido do rei e parte em uma jornada para derrotar Baramos, mas não antes de se despedir de sua esposa e de seu filho.
Após viajar por todo o mundo, Ortega finalmente enfrenta Baramos e a luta acontece no topo de um vulcão. Ninguém sabe ao certo o que aconteceu ali, mas esse foi o dia em que Ortega desapareceu para sempre e a presença de Baramos continuava a assolar a todo o mundo.
O rei de Aliahan fica sabendo da notícia e como último recurso acaba pedindo ao filho de Ortega terminar o trabalho de seu pai. Roto então aceita a missão dada pelo rei e parte em sua aventura, se tornando o protagonista dessa narrativa.
A customização
No início do jogo podemos pela primeira vez escolher se o herói será homem ou mulher, e apesar de isso não alterar quase nada na jogabilidade foi uma adição bem recebida pelos jogadores, e podemos dizer que o clichê do herói sendo despertado pela sua mãe no início da aventura começou bem aqui.
A principal característica do jogo, gira em torno do sistema de classes. Para salvar o mundo, o herói pode recrutar outros três personagens para a sua equipe, mas no final das contas é o jogador quem vai criar todos os personagens e decidir coisas como o sexo, nome, pontos de atributos e a classe.
O jogo apresenta as principais classes como guerreiro, lutador, mago, clérigo, mercador e bobo da corte. Cada classe tem vantagens e desvantagens, como o lutador tem maior ataque físico mas não utiliza magia, enquanto o clérigo é focado em magias de cura mas dá pouco dano por exemplo.
Escolher bem as classes e os atributos, é o que vai definir a estratégia do jogador, e assim a aventura pode ficar mais fácil ou difícil, mas o jogo é flexível o suficiente permitindo alterar a classe de um personagem quando ele atingir o nível 20. A vantagem dessa mecânica é que ela nos permite manter todas as habilidades aprendidas, além de conservar metade dos atributos adquiridos anteriormente, mas infelizmente o personagem voltará para o nível 1. Essa escolha de risco e recompensa é o que torna a aventura bem interessante, pois todos querermos poder ter um guerreiro que cura.
Existem classes escondidas que podem ser escolhidas somente quando atingimos determinado nível de outra classe, e o remake do Super Nintendo adicionou outras classes como o ladrão por exemplo, além de adicionar um sistema de personalidade que nos dá um aumento extra em um tipo específico de atributo, a cada vez que subimos de nível. Podemos alterar as personalidades dos personagens a qualquer momento, utilizando livros específicos que podem ser comprados ou encontrados pelo mapa.
As melhorias
Além de poder customizar os personagens do nosso grupo, esse novo título trouxe algumas melhorias como por exemplo a adição de um novo meio de transporte além do barco. Outra adição interessante é o minigame de aposta em lutas de monstros e uma espécie de jogo de tabuleiro, onde utilizamos o nosso personagem como uma peça que vai avançando os blocos com a ajuda dos dados, mas infelizmente este minigame foi o que ficou no lugar do antigo tombola que já não está disponível.
Também adicionaram um sistema de dia e noite, ou seja, existem eventos e lugares no mapa onde somente é possível acessar em determinado horário do dia. Um bar só podemos entrar durante a noite, enquanto cidades bem movimentadas estão disponíveis durante o dia. Os inimigos também são mais poderosos durante a noite, mas ainda bem que existe uma classe no jogo que tem o poder de alterar o dia e a noite com o uso de magia, deixando ao jogador a opção de escolher o que for mais conveniente.
O mundo bem construído
Pela primeira vez existem histórias paralelas ligadas à narrativa principal, ou seja, quando passamos por alguma cidade, existem pequenos conflitos onde podemos nos envolver ou não, algo bastante similar com o conceito de missão secundária que encontramos nos jogos atuais.
Para dar um exemplo de coisas que se podem fazer, existe um determinado momento no jogo onde podemos deixar um personagem da classe mercador encarregado de uma cidade. E conforme avançamos na história, cada vez que voltamos a essa cidade vemos ela crescendo, e certas decisões afetam as falas de seus cidadãos. Por outro lado, escolher participar disso é decidir abandonar um membro da nossa equipe, o que pode se tornar uma decisão bem difícil e totalmente opcional. Talvez você nem tenha um personagem da classe mercador para início de conversa.
Além disso o jogo é mais adulto e obscuro que os anteriores, e toca em assuntos delicados como suicídio, traição e sacrifício humano que não deveriam estar presentes em um console de 8 bits direcionado as crianças.
E como se já não estivesse suficientemente surpreendido com um jogo de 1988, ele ainda conseguiu me apresentar uma reviravolta totalmente inesperada na narrativa, que me fez enxergar o mundo de Dragon Quest III com outros olhos. Apesar de que infelizmente a reviravolta só funciona com quem já jogou os outros títulos da série.
A falta de profundidade
Para que o jogo fosse bem customizável para o jogador, infelizmente os desenvolvedores tiveram que sacrificar a personalidade dos membros de sua equipe. Todos os personagens são genéricos, sem uma história de seu passado ou algum objetivo para a sua aventura. Todos estão ali porque assim o jogador quis.
Não existem conversas entre os membros da equipe, e o próprio Roto tem uma motivação bem rasa, que de nenhuma forma justifica todos os perigos que ele está enfrentando. O jogo foi construído para funcionar sem se importar com os membros do seu grupo, e para a narrativa eles poderiam ser pessoas, animais, monstros ou simplesmente nem existirem.
Um jogo exigente
Graças a mecânica de poder reiniciar os níveis para começar com outra classe, o jogo pode demandar muito grinding, pois se por um lado temos personagens poderosos com várias habilidades, por outro lado os desenvolvedores sabem disso, e adicionaram vários desafios que vão exigir muito do jogador.
Para ter uma ideia, temos que enfrentar quatro chefes que se encontram ao final de um calabouço que não nos dá a opção de recuperar nosso grupo. Como se não fosse o suficiente, é necessário utilizar um item bem específico e opcional para ter uma chance contra o último chefe, e eu descobri isso da pior maneira possível, pois eu cheguei lá sem esse item e chutaram a minha bunda.
E por último, o final ainda está dentro do padrão dos outros dois jogos, sem muitas alterações ou inovações. É mais sobre a jornada do que o destino.
Dragon Quest III superou todas as minhas expectativas, nunca pensei que esse jogo pudesse extrair tanto de um console 8 bits.
O mundo é bem construído e as histórias paralelas enriquecem a narrativa apresentada. Infelizmente os personagens não apresentam o mesmo nível de cuidado e profundidade, mas foi um sacrifício necessário para dar mais opções de customização ao jogador pois é um título que demanda boas estratégias e que pode se tornar extremamente difícil se não colocamos a dedicação necessária.