O início de Kingdom Hearts
A mistura bizarra entre um Action RPG e personagens populares da Disney que deu certo.
- Nome: Kingdom Hearts HD 1.5 + 2.5 Remix
- Plataforma: Playstation 4
- Lançado: 28/03/2017
- Finalizado: 21/04/2018
- Duração: 35 Horas
Tudo começou quando Shinji Hashimoto, um produtor da Square Enix, estava conversando com Hironobu Sakaguchi, pai do Final Fantasy, sobre como poderiam fazer um jogo com uma movimentação estilo Mario 64, mas infelizmente somente personagens populares como os da Disney teriam alguma chance de fazer sucesso.
Tetsuya Nomura que escutou a conversa, se voluntariou para liderar o projeto e por uma ironia do destino Hashimoto encontra com um executivo da Disney no elevador, o que foi a oportunidade perfeita para plantar a ideia de uma parceria. Pois é, nessa época a Square e a Disney trabalhavam no mesmo edifício.
Apresentando uma história profunda e complexa onde um novo personagem baseado no Mickey seria o protagonista, viajando por mundos populares da Disney, nasceu Kingdom Hearts em 2002 originalmente para o Playstation 2.
História
Aqui acompanhamos o protagonista Sora, que vive em uma ilha deserta junto com seus melhores amigos Riku e Kairi, e juntos estavam construindo uma jangada para explorar o mundo.
Acontece que depois de alguns eventos, uma tempestade toma conta da ilha, e inimigos vindos da sombra começam a aparecer por toda parte. Sora que queria proteger a jangada e acaba encontrado Riku no caminho, este que foi completamente consumido pela escuridão e desaparece.
Sem entender nada Sora acaba invocando uma arma que mais tarde ficou conhecida como Keyblade, e parte em busca de Kairi. Quando ele encontra ela, uma misteriosa porta se abre e Kairi desaparece enquanto Sora desmaia.
Enquanto isso, o rei Mickey desaparece mas deixa uma mensagem para o Donald e Pateta dizendo que eles devem encontrar o portador da chave e ficar junto com ele. Os dois então vão para Traverse Town e acabam encontrando Sora desacordado, que tem a Keyblade que é uma arma no formato de chave.
Sora agora deve partir em busca de Riku e Kairi se unindo a Donald e Pateta que procuram o rei Mickey. E assim os três partem nessa jornada entre os vários mundos da Disney.
História profunda e complexa
Já comentei anteriormente que sou o tipo de pessoa que joga um jogo pela história, e Kingdom Hearts me fez o favor de fazer uma história única que é dividida entre vários jogos, o que basicamente me obriga a jogar todos os títulos da série. Vou comentar um pouco mais sobre a história para ilustrar a complexibilidade.
Apesar de começar simples, como uma busca por seus amigos, Kingdom Hearts é um universo composto por vários mundos onde a luz está em constante batalha com a escuridão. Como vimos nos jogos que são cronologicamente anteriores a este, tivemos a Keyblade War, e neste título as pessoas citam Sora como se fosse o último portador da Keyblade, algo que aparentemente foi inspirado em Star Wars.
No decorrer do jogo, entendemos que geralmente as pessoas não sabem sobre a existência de outros mundos, e ao mesmo tempo encontramos refugiados que tiveram seus mundos totalmente destruídos pelos Heartless que são os inimigos que enfrentamos.
Aparentemente os Heartless são seres que buscam a escuridão do coração das pessoas, e quando isso acontece, a pessoa perde seu coração e a escuridão que ali existia se torna um novo Heartless, é assim que eles aumentam o seu número. Ansem que estudou sobre os Heartless, descobriu que os mundos também possuem um coração, e como comentei anteriormente, existem casos de mundos que foram consumidos pela escuridão.
Além disso temos Maleficent que se uniu com outros vilões da Disney, em busca das princesas que não possuem escuridão em seus corações, e são a chave para abrir o Kingdom Hearts que é o lugar que contém poder e conhecimento ilimitado, além de ser a origem de todos os corações.
E isso é só a ponta do “iceberg”, então é um sentimento misto entre a curiosidade de querer saber o que vai acontecer e a frustração de nada fazer sentido.
Só para terminar, no jogo existem os relatórios do Ansem, que nos conta mais sobre este mundo além de também adicionar um pouco do ponto de vista dele. Esses relatórios estão espalhados pelo jogo e recomendo que encontre todos, pois são bem interessantes e te ajuda a entender tudo o que está acontecendo.
Fanservice
Obviamente o jogo é cheio de fanservice, e ver seu personagem favorito da Disney no meio da história é sempre bacana, e o Tetsuya Nomura conseguiu dar importância a eles.
Como comentei anteriormente temos a icônica Maleficent, as princesas da Disney como Aurora, Cinderela, etc. Fora outros personagens como Aladdin, Tarzan entre outros que podem fazer parte da sua equipe e te ajudam a lutar contra os Heartless, o que é bem legal.
Também existe o fanservice por parte da Square, que adiciona personagens icônicos de suas franquias como Cloud e Sephiroth de Final Fantasy VII, com direito a uma batalha épica entre eles. Nesse jogo visitamos os mundos: Alice no País das Maravilhas, Tarzan, Hércules, Aladdin, Pinóquio, A Pequena Sereia, O Estranho Mundo de Jack, Peter Pan e Ursinho Pooh.
Mecânicas legais
Além de cada mundo disponibilizar um personagem para fazer parte da sua equipe, temos Donald e Pateta o tempo inteiro conosco. Como um bom RPG podemos subir de nível, podemos equipar armas mais poderosas e utilizar acessórios.
Também existe um sistema de magias, que podem ser encontradas em baús, destravadas por desafios extras ou conforme vamos avançando na história. Como as magias consomem muita MP, é recomendado equipar vários elixires no menu de acesso rápido, assim como poções para recuperar o HP, já que nesse jogo é bem fácil morrer. Felizmente também podemos recuperar HP e MP derrotando os inimigos pelo cenário, além de conseguir Munny que é a moeda do jogo.
Além disso existe o Gummi Ship, que é uma nave que utilizamos para viajar entre os mundos, que pode ser totalmente customizada. Quando viajamos entre os mundos, o jogo vira uma espécie de shooter que é bem fácil na verdade, mas que possui missões opcionais para quem busca maior desafio. Customizar sua nave é bem legal e funciona como uma espécie de lego, onde vamos adicionando mais peças como mais turbina, mais armas, mais armadura, etc. Apesar de eu achar essa mecânica bem divertida, no fundo ela não adiciona nada para a história e nem te recompensa com bons itens, se tornando uma mecânica totalmente dispensável que não vale a pena investir seu tempo.
Também existe um sistema de AP, que te permite equipar habilidades como ataques especiais como pulo duplo e etc. O bom desse sistema é que ele não te permite equipar tudo ao mesmo tempo, adicionando um pouco de estratégia. Durante os combates, o jogo não te permite trocar as habilidades e nem os equipamentos, o que dificulta um pouco o jogo.
E por último, só queria dizer que a trilha sonora desse jogo é maravilhosa.
Polimento
Esse jogo não é nada polido, e muitas vezes se torna impossível não ficar com raiva disso.
A jogabilidade é bem travada, e existem alguns momentos no jogo que temos que passar por plataformas, isso é dizer, temos que dar um salto perfeito na plataforma, então fui obrigado a tentar o mesmo trecho várias vezes, sendo bem frustrante.
Quando o controle responde, a câmera decide avacalhar a sua vida, colocando ângulos que simplesmente não permitiam ver para onde eu estava indo ou qual inimigo estava me atacando. O lock-on automático nos inimigos, só piorava tudo.
A inteligência artificial do Donald e do Pateta é simplesmente horrível, eles mais atrapalham do que ajudam. Para dar um exemplo, o Donald fica sem Mana logo no início dos mundos, pois ele insistia matar inimigos fracos com Magias nível 3, e não existe nenhum tipo de comando ou ajuste que podemos fazer para evitar esse tipo de coisa. Ele vai usar toda a magia, independente se você põe ele na defensiva ou ofensiva.
Existem dois mundos onde a mecânica é diferente. Por exemplo, no mundo da Pequena Sereia temos que nadar, e no mundo do Peter Pan temos que voar. Até aí tudo bem, pois o jogo quer dar uma quebrada para não ficar repetitivo. O problema é que essa mecânica de voar ou nadar, simplesmente não funciona bem, e novamente brigamos com o controle e com a câmera na tentativa de acabar com o sofrimento.
Já no combate, podemos equipar até 3 magias no menu rápido para facilitar nossa vida, mas quando precisamos utilizar alguma magia que não está no menu rápido, temos que utilizar o menu de batalha, enquanto tentamos sobreviver aos ataques dos inimigos, pois este menu foi construído para RPG de turnos e não Action RPG. Além disso a defesa não funciona bem, e temos quase que prever o futuro para conseguir defender um ataque de forma efetiva. Realmente não tenho ideia do que eles estavam pensando quando construíram esse sistema de batalha.
Backtracking dificuldade insana
Além dos problemas de polimento do jogo, ele faz o favor de ser bem difícil, simplesmente porque sim.
Por exemplo, o jogo não é balanceado. Chega um momento no jogo onde matamos todos os inimigos facilmente, e quando chegamos nos chefes, somos mortos facilmente como se estivéssemos abaixo do level recomendado. Ai entupimos o Sora com ether e abusamos das magias, e pronto, vencemos sem problemas.
Outra forma de gastar MP, é utilizando as Summons. No jogo podemos Summonar personagens da Disney para nos ajudar, mas essas Summons são extremamente inúteis e não te ajudam em nada. Estão lá somente para fanservice. Tirando a Sininho, que a Sininho é útil.
No jogo você vai encontrando habilidades como pulo duplo e Dash no ar, que nos obriga a revisitar mundos anteriores em busca de baús e áreas que antes não eram acessíveis, tem gente que adora isso, mas eu particularmente não gostei aqui.
E para terminar, o combate 90% do tempo se resume em apertar o X (botão de ataque).
Extras
Existem alguns extras e mecânicas adicionais que simplesmente são impossíveis ou não valem o esforço investido.
Por exemplo, para destravar o final secreto, necessitamos encontrar 99 Dálmatas dos 101, além de vencer a copa Hades do Coliseum. Até aí sem problemas, tem muito backtracking, vamos perder algumas horas, mas ok, é possível. Já para destravar o final do Final Mix, você precisa completar o jornal do Grilo falante com 100%. Isso significa vencer todos os inimigos incluindo os chefes secretos, todos os mini games, todos os itens, todos os personagens, etc. Em resumo tu precisa de um milagre.
E a principal razão de você precisar de um milagre, é que basicamente é impossível derrotar todos os chefes secretos. E o motivo disso é que além de serem extremamente difíceis e poderosos, o desafio aqui não é a luta contra eles, e sim a luta contra os controles do jogo, pois é impossível dar 100% quando o controle não te responde, fazendo com que a batalha seja totalmente frustrante.
Outro ponto é o sistema de sintesys. Existem alguns itens que só conseguimos combinando determinados materiais que são dropados por determinados inimigos. O problema aqui é que precisamos muitos itens, como 30 por exemplo de determinado item. Além do jogo não mostrar qual item, determinado inimigo dropa, tornando obrigatório o uso de faqs, os inimigos dropam de forma totalmente randômica, e caso você não consiga o item, é necessário sair do mapa e voltar para que o inimigo volte a aparecer, então tomamos horas e horas para conseguir os itens, e de verdade, não vale a pena, pois o final secreto já está liberado nas cinemáticas do jogo, ou você pode baixar em qualquer lugar.
Existe o mundo do Ursinho Pooh, que é um compilado de minigames que são bem ruins, principalmente devido a mecânica não polida do jogo que já comentamos anteriormente. É um mundo extra e sinceramente não vejo a menor necessidade dele existir da forma que ele é.
O jogo também tem uma mecânica de Trinity, onde determinados pontos do mapa existe uma marca, e temos que estar com o Donald e o Pateta para ativar. Ativando ganhamos Munny, Itens ou abrimos determinado caminho que antes não estava disponível, mas o que efetivamente ganhamos com isso não tem relevância suficiente para que se torne uma mecânica necessária ou interessante.
Kingdom Hearts está longe de ser um jogo perfeito, mas consegue manter um certo carisma que pode agradar a vários jogadores, principalmente se são fãs da Square ou da Disney. Com uma história complexa e interessante, jogabilidade simples que consegue ser frustrante, ainda assim é uma boa pedida por não ser tão longo.
Todos os jogos de Kingdom Hearts são diretamente conectados, e por este motivo é extremamente necessário saber o que aconteceu aqui, mas por outro lado, existem outros métodos para saber a história sem necessariamente jogar o título.