O verdadeiro Ys IV
Curiosamente existem 3 versões do Ys IV produzidas, mas Memories of Celceta é a única canônica que foi produzida pela Nihon Falcom. Entenda como foi que aconteceu toda essa confusão.
- Nome: Ys: Memories of Celceta
- Plataforma: PC
- Lançado: 25/07/2018
- Finalizado: 12/08/2018
- Duração: 32 Horas
Cronologicamente o próximo jogo da saga é o Ys IV e não o Ys III, por este motivo a introdução será um pouco maior, pois muita treta ocorreu entre um título e outro.
Três meses antes do lançamento de Ys III no ano de 1989, Masaya Hashimoto e Tomoyoshi Miyazaki que basicamente são os responsáveis por Ys, saíram da Nihon Falcom para abrir a sua própria empresa, a Quintet, que é responsável por jogos como ActRaiser, Soul Blazer, Illusion of Gaia, Robotrek, Terranigma entre outros clássicos dos anos 90. Existem rumores de que houve um desentendimento dentro da Falcom, e nessa treta saíram várias pessoas, incluindo o Yuzo Koshiro.
Com a equipe reduzida, a Falcom decidiu licenciar Ys para outras duas empresas, a Hudson Soft e a Tonkin House, que já haviam trabalhado com ela em portes dos Ys anteriores para outras plataformas. Cada empresa fez a sua própria versão do Ys IV, que em teoria deveria conter a mesma história que foi escrita pela Falcom, mas no geral são bem diferentes um do outro, mas isso é uma longa história que vai ficar para outra hora.
Os dois jogos saíram em 1993, a Hudson fez o Ys IV: The Dawn of Ys (Pc Engine), e a Tonkin fez o Ys IV: Mask of the Sun (Snes), sendo que o Dawn of Ys da Hudson é considerado um dos melhores jogos da franquia, mas é o Mask of the Sun da Tonkin que era considerado como canônico. Em 2005 foi criado uma espécie de remake, Ys IV: Mask of the Sun –a new theory- para o Playstation 2 que foi produzido pela Taito, mas assim como os outros Ys IV, esse também nunca saiu do Japão até que em 2012 a Nihon Falcom decidiu lançar a sua própria versão, o Ys: Memories of Celceta que substituiu de forma definitiva as outras versões.
E é por isso que existem basicamente 3 jogos do Ys IV, mas é só o Memories of Celceta que é considerado como parte da cronologia oficial hoje em dia, e pode ser devidamente aproveitado sem a necessidade de jogar os outros títulos.
História
Mais ou menos 1 ano depois dos eventos de Ys II, Adol Christin está na cidade de Casnan que é uma província que está localizada aos arredores da Grande Floresta de Celceta, que é uma gigante e misteriosa floresta, infestada de monstros, onde apenas algumas pessoas que se arriscaram a explorar, voltaram com vida para contar história.
Por alguma razão Adol está exausto, e ao chegar na cidade de Casnan com muita dificuldade, acaba desmaiando. Mais tarde após ser levado até a taverna, descobrimos que Adol perdeu completamente a sua memória. Quando Duren, um revendedor de informação, entra na taverna chamando Adol pelo nome e afirmando que os dois eram amigos, é revelado que Adol tinha ido explorar a Grande Floresta de Celceta e voltou vivo, mas sem as suas memórias.
Mais tarde a Governadora Geral de Celceta, Griselda, chama Adol e Duren para conversar. Ela explica que recebeu ordens do Império de Romun, que comanda a maior parte do continente Europeu e está em guerra com o Reino de Altago para expandir seu território. A ordem era para encontrar novos depósitos de ouro na Grande Floresta de Celceta, o problema é que o exército de Romun não se atreve a explorar a floresta, então Griselda pede a Adol explorar e mapear a Grande Floresta de Celceta, uma vez que não existe qualquer mapa da área.
Adol aceita o desafio, já que ele teria que voltar lá de qualquer modo para descobrir o que aconteceu que fez com que ele perdesse a suas memórias.
Personagens
Esse jogo conta com um ótimo grupo de personagens, tanto aliados quanto inimigos. Cada um tem sua personalidade e contexto, além de completar bem a história que em teoria é até que simples de modo geral mas não deixa de ser boa. Mas se tratando de um jogo da Falcom, eu só estou chovendo no molhado, pois ela já é conhecida por desenvolver bem seus personagens.
Bom, no jogo temos que explorar a Grande Floresta de Celceta, certo? O legal aqui é que também vamos encontrando as memórias de Adol, que mostra mais do seu passado, seus pais e antigos amigos, o que é bem legal e nostálgico para qualquer fã da série Ys como um todo.
O final também é bem legal e no geral o jogo explica coisas que são vistas ou utilizadas nos outros títulos da franquia. Uma curiosidade é que o primeiro jogo que Toshihiro Kondo, atual presidente da Nihon Falcom, trabalhou foi Ys VI, e a partir dai a Falcom começou a tentar criar uma timeline na história, e é por isso que o Celceta, assim como outros jogos como por exemplo o remake do Ys III ou Ys Origin, fazem conexão ou menção aos outros jogos da franquia.
Exploração
Enquanto vamos explorando, também vamos completando uma porcentagem de exploração do mapa, que ao atingir determinada porcentagem, ganhamos recompensas da Griselda, além disso o jogo te dá outros incentivos para que exploremos, como as memórias do Adol e outras mecânicas que ainda vou comentar.
Além disso em determinados pontos do mapa podemos criar atalhos, por exemplo, existe um precipício onde não temos como atravessar, então damos a volta no mapa e quando chegamos do outro lado podemos derrubar uma árvore para fazer uma espécie de ponte, nos permitindo chegar até ali sem dar a volta completa. É algo bobo, mas me dava grande satisfação em encontrar esses atalhos.
Como esse titulo usa a engine do Ys Seven que foi a mesma utilizada no Ys VIII, podemos utilizar até 3 personagens ao mesmo tempo. Pensando nessa mecânica, cada personagem tem habilidades únicas que podem ser utilizadas no mapa para abrir caminhos. Por exemplo o Ozma pode quebrar rochas que impedem a nossa passagem. Essa é uma mecânica bem interessante e faz com que cada personagem tenha seu valor.
Apesar de ser uma floresta, o jogo consegue variar bem os mapas, passando por campos abertos, cavernas, pântanos e tudo que uma floresta tem direito. Além disso o jogo possui várias cidades para serem visitadas, e cada uma tem sua própria personalidade e arquitetura. De maneira geral eu gostei bastante de explorar esse mundo.
Batalha
No jogo podemos correr, esquivar, rolar, atacar, mas não tem como pular. Os combates são rápidos, e os controles respondem bem. No total podemos jogar com até 6 personagens, mas só podemos manter 3 na party por vez, e podemos alterar entre os três em tempo real. Não tem muito o que dizer aqui, é Ys e o combate continua excelente.
Como podemos trocar de personagens em tempo real, esse título também possui o sistema de Slash Pierce e Strike, onde determinados inimigos vão ter fraqueza contra determinado tipo de arma, da mesma maneira que funciona em Ys VIII. Esse sistema é interessante porque incentiva que troquemos de personagens, e cada personagem tem sua própria jogabilidade que evita de deixar as batalhas enjoativas. Cada personagem também tem suas próprias skills, que ao utilizar vamos gastando a barra de skill que é compartilhada entre todos.
Quando defendemos justamente antes de receber um ataque, ativamos o Flash Guard que enche nossa barra de skill e deixam todos os próximos ataques com o dano crítico. E ao utilizar o botão de esquiva justamente antes de tomar dano, ativamos o Flash Move, deixando tudo em câmera lenta, nos dando invencibilidade temporária. Com um pouco de prática é possível abusar desses sistemas, mas está bem, já que o jogo te recompensa por jogar bem.
Customização
No jogo podemos equipar arma, armadura e um acessório. Existe um sistema de customização onde dá pra adicionar atributos nas armas e escudos, por exemplo, podemos adicionar burn nas armas, resistência a veneno nas armaduras, mas eu particularmente gostava de adicionar roubo de vida para cada ataque.
Também existem acessórios que aumentam a quantidade de material que os inimigos dropam, além de acessórios que aumentam a força e defesa baseado no número de passos que damos ou número de inimigos que matamos. Resumindo se investir um tempo na build dos personagens, é possível quebrar o jogo e deixar ele bem fácil. Para ter uma ideia, venci o chefe final com mais de 90% do meu HP, e não tive que utilizar nenhum item.
Como comentei, os inimigos dropam materiais, e esses materiais podemos utilizar no crafting, que é exatamente o sistema que nos permite fazer tudo que comentei até agora, adicionar atributos no equipamento e criação de acessórios ou melhores materiais. Também é possível comprar equipamentos e materiais nas lojas, da mesma maneira que simplesmente podemos vender os materiais em troca de dinheiro. Mas o melhor equipamento é liberado por quest mesmo.
Para finalizar o jogo possui opções de diálogo, que apesar de não mudar nada na história, eu gosto desse sentimento de poder escolher o que vou dizer. O jogo também possui falas dubladas, que apesar de serem poucas, é perfeitamente compreensível já que esse título foi criado pensando no Playstation Vita.
Backtracking
Apesar do jogo te dar opção de correr, e também abrir atalhos para facilitar a navegação, ele não consegue reduzir a frustração do backtracking. Toda hora o jogo nos obriga a voltar nos mesmos lugares por várias vezes, e isso simplesmente é irritante.
Até existem pedras espalhadas pelo mapa, que podemos utilizar para nos teletransportar, mas o problema é que no início do jogo, só podemos teleportar para pedras específicas com cores específicas. Exemplo, você vai até uma pedra azul, e pode se teleportar para qualquer outra pedra azul, mas na verdade você queria ir na pedra verde, e não tem pedra verde por perto.
Mais ou menos na metade do jogo, ganhamos um item que nos permite teleportar para qualquer pedra a qualquer momento, a minha única pergunta é porque diabos os desenvolvedores não liberaram esse item desde o início, assim o backtracking ficaria um pouco menos irritante.
Nossa missão é explorar 100% do mapa, certo? O grande problema é que o mapa não mostra bem os lugares que exploramos, então certifique-se de explorar cada cantinho da área em que você está antes de mover para outra área, porque eu por exemplo completei 99% do mapa, e não tinha ideia de onde estava esse 1% não explorado. E acredite, aconteceu o mesmo com várias outras pessoas, e existem discussões na internet sobre esse “bug”.
Polimento
Esse Ys é totalmente 3d, mas daquele 3d que tem a câmera fixa. Isso significa que em alguns momentos a câmera joga contra você, e será atacado por inimigos que você simplesmente não vai ver ou saber onde eles estão. Poderia ter um modo onde pudéssemos controlar a câmera, mas imagino que o jogo iria quebrar totalmente o jogo.
O sistema de sidequest também é bem desinteressante. Em cada cidade podemos aceitar pedidos, mas geralmente são quests bem genéricas do tipo, encontre determinado item, mate determinado inimigo, compre determinado objeto, etc, etc. Enfim, nenhuma quest adiciona algo realmente interessante no jogo, que não seja as recompensas.
Achei os itens um pouco caro para comprar, apesar de que depois de um tempo jogando, dinheiro já não se torna um problema, mas cobrar 1.000 em uma poção é um pouco exagerado, principalmente no início da aventura onde ainda estamos entendendo a jogabilidade.
Outra coisa é que eu gostaria que a história fosse um pouco mais profunda em relação ao futuro dos personagens. Depois que terminamos a aventura, o jogo não se preocupa em dizer o que aconteceu com cada membro do seu time. Investiram tanto tempo em criar uma conexão entre os personagens, que é um desperdício simplesmente acabar sem saber o que aconteceu com eles.
Ys: Memories of Celceta é um bom jogo que veio para tapar o buraco que a timeline de Ys possuía. Utilizando a mesma engine do Ys Seven, nos proporcionou um jogo divertido, com uma história interessante, mas que pode ser um pouco cansativo e fácil demais se você investir o tempo que ele merece.
Por ser um jogo relativamente curto, e possuir vários níveis de dificuldade, eu tenho certeza que esse título vai te divertir da mesma maneira que ele me divertiu. Não é o melhor Ys de todos, mas com certeza merece sua atenção.