
O RPG que Renegou sua Identidade: Valkyria Revolution
Hoje, eu vou te contar como foi a minha experiência jogando Valkyria Revolution até o fim. Sabe aquele jogo que tenta tanto parecer moderno… que esquece completamente de onde veio? Uma franquia amada, famosa por sua estratégia e profundidade, simplesmente jogou tudo isso fora pra virar um espetáculo de ação genérico. Trocou a alma por tendências, a tática por explosões. E o resultado? Foi rejeitado por quase todo mundo — inclusive por mim.
Mas o mais surpreendente é como essa escolha revela o que pode acontecer quando um jogo tenta agradar todo mundo… e acaba não dizendo mais nada. Se você curte RPGs e quer entender por que esse título me frustrou tanto, vem comigo!
Imagina o seguinte: você tem uma série que mistura estratégia tática com combate em turnos, personagens super carismáticos e um estilo visual que parece uma pintura feita à mão. Essa era a magia de Valkyria Chronicles.
Lançado em 2017, Valkyria Revolution chegou com uma proposta ousada: reinventar tudo isso. Trocar o campo de batalha estratégico por ação em tempo real. Substituir decisões táticas por combos de espada e magias explosivas. E abandonar a narrativa emocional e tocante... por algo bem mais dramático e cheio de discursos.
A SEGA queria modernizar, atrair um novo público, especialmente no Ocidente. Só que, no processo, largou tudo que fazia a franquia ser especial.
E aí surgiu um jogo que parecia mais um primo distante do que um membro da mesma família.
Sabe quando um spin-off quer ser “diferentão”, mas esquece de respeitar o que veio antes? Foi exatamente isso.
Agora, deixa eu contar como foi minha experiência real.
Eu já tinha jogado os anteriores, então fui com expectativa, mas também com o pé atrás. E logo nos primeiros minutos, uma coisa me bateu forte: tem algo errado aqui.
O visual? Até que tenta manter aquele filtro de aquarela. As músicas? São de ninguém menos que Yasunori Mitsuda — o mesmo que compôs pra Chrono Trigger e Xenogears. Então dá pra imaginar que a trilha sonora é maravilhosa. Mas mesmo com tudo isso… o jogo parece vazio. Como se a alma tivesse ido embora e só sobrou uma casca bonita.
E eu só continuei... por teimosia mesmo. Porque, no fundo, eu queria acreditar que ainda ia encontrar aquele momento mágico. E até encontrei. Mas foram raros. Bem raros.
Vamos falar da história?
Ela começa de um jeito promissor. Um aluno curioso pergunta pra professora sobre os “Cinco Traidores” de uma guerra antiga. E aí a gente vai sendo levado por essa narrativa tipo lenda, com capítulos, arquivos, uma estrutura quase como se fosse um livro interativo.
Legal, né? A ideia é boa. Mas a execução… tropeça feio.
O protagonista, Amleth, é um dos tais traidores. Ele e os amigos de infância perdem a mulher que cuidava deles pra um império cruel. E, em vez de buscar justiça... eles decidem infiltrar o governo inteiro pra provocar uma guerra. Isso mesmo. Eles iniciam um conflito inteiro pra poder se vingar.
Tem potencial? Muito. Dava pra explorar dilemas morais, manipulação, consequências reais da guerra… mas o roteiro escorrega.
Os personagens falam demais e dizem de menos. E não é exagero. São diálogos longos, cheios de frases genéricas, que não levam a lugar nenhum. E as expressões faciais? São tão travadas que, às vezes, parecia que os personagens estavam congelados. Tipo bonecos de cera ensaiando pra uma peça que nunca acontece.
Tem uma princesa que decide ir pra guerra junto com Amleth. E o pai dela, o rei? Nem se importa. Parece que ninguém ali sente nada de verdade. E isso pesa.
Mas tem um ponto aqui que eu preciso destacar.
O formato de livro, com capítulos, anotações e registros históricos… é muito legal. Dá uma sensação de estar desvendando um passado perdido. O problema é que esse conteúdo, mesmo com essa apresentação tão criativa... é vazio. Como se fosse um álbum de fotos bonito, mas sem nenhuma imagem dentro.
E o tal final secreto? Você precisa repetir missões, usar personagens específicos, cumprir vários objetivos super específicos… tudo isso só pra ver um desfecho que você provavelmente já tinha imaginado muito antes. Foi decepcionante.
Visualmente, o jogo tenta te conquistar. Usa aquele efeito de aquarela, tenta parecer um conto épico pintado à mão. Mas não se engane: é só fachada.
Os cenários são pequenos, genéricos, repetitivos. A cidade principal, Elsinore, parece uma maquete quebrada em pedacinhos. Sério. Você quer ir da praça pra loja? Tela de carregamento. Quer sair da loja? Mais carregamento. Tudo muito fragmentado. E aí você descobre que o jogo foi feito pro PS Vita… e tudo faz sentido. Mas não no bom sentido.
Os NPCs — aqueles personagens secundários — ficam parados, como se estivessem esperando alguém apertar "play" pra começar a viver. A trilha sonora continua sendo o único elemento que brilha o tempo todo. Mitsuda mandou muito bem. Pena que ela tá colada num jogo que não faz jus à qualidade da música.
E se a gente falar da jogabilidade… aí sim, o bicho pega.
O combate tenta misturar ação com estratégia. Só que falha nas duas coisas. Pra você atacar, tem um medidor que precisa encher. E isso quebra o ritmo do jogo. É lento demais pra ser um hack’n’slash divertido… e rápido demais pra ser uma tática pensada.
Você até pode dar comandos pro seu time, mas os aliados… ignoram tudo. Fazem o que querem. Curam os errados. Morrem fácil. E, no final das contas, quase todas as lutas dá pra vencer só no ataque básico. Sem desafio. Sem emoção.
O sistema de magia, chamado de Ragnite, até parece interessante. São pedras mágicas que você equipa pra usar feitiços. Mas o menu é confuso, parece uma planilha mal organizada. E o crafting — aquele sistema de criação e evolução de itens — tá ali, mas quase não faz diferença.
E a exploração? Quase inexistente.
Você anda em mapas pequenos, repetitivos, sem nada pra descobrir. Missões te jogam de um ponto ao outro, sem liberdade. Inimigos iguais, cenários reciclados, recompensas inúteis. O único lugar realmente legal de explorar… é o menu do jogo. Isso mesmo. O menu. Lá você encontra arquivos, biografias, imagens… Dá vontade de ficar lendo aquilo tudo e esquecer do resto.
Imagina isso: o melhor lugar de um RPG pra explorar… é uma tela de menu.
Agora, se você tá se perguntando como isso tudo foi acontecer… eu te explico.
Depois do sucesso do remaster do primeiro Valkyria Chronicles no PC, a SEGA quis trazer a franquia de volta. Mas, em vez de seguir o que os fãs gostavam, decidiram criar um universo paralelo. Tudo foi pensado pro Vita. Aí vieram as limitações técnicas, os cortes, as simplificações. A morte permanente dos personagens — que era um dos grandes diferenciais da série — foi removida.
O roteiro foi escrito como se fosse um anime de 24 episódios, com reviravoltas e frases de impacto. Só que, na prática… parecia um anime mal dirigido. Mesmo depois das críticas da demo, mesmo com as correções antes do lançamento… a base já tava comprometida.
O resultado? Um jogo confuso, cansativo e que não conseguiu entregar nada do que prometeu.
E agora, falando por mim… Valkyria Revolution me frustrou.
Eu queria gostar. Me esforcei. Tentei ver o lado bom. Dei meu tempo, minha atenção. Teve momentos em que me empolguei — principalmente nas lutas contra a Valkyria. Nessas horas, o jogo parecia acordar. O clima ficava tenso, a música explodia, o perigo era real. Foi ali que eu vi um pouco do que o jogo poderia ter sido.
E o menu em forma de livro… foi criativo demais. Um dos melhores que já vi.
Mas tudo isso foi soterrado por missões repetitivas, IA mal feita, menus travados e escolhas ruins. Foi como andar em círculos, esperando algo melhor… que nunca chegou.
E aí vem a pergunta final:
Valkyria Revolution vale a pena?
Minha nota? Um C.
Não é um desastre completo. Mas exige muito mais esforço do que recompensa. Se você é fã dos jogos originais, vai sair decepcionado. Se é novo na franquia, vai sair confuso. Só vale se você curte estudar sobre a criação de jogos, ou tá realmente curioso pra entender como uma ideia promissora pode se perder no caminho.
Agora, se você quer uma recomendação de verdade... joga Valkyria Chronicles 1 ou Valkyria Chronicles 4. Esses sim, são RPGs táticos incríveis, com histórias envolventes, personagens marcantes e gameplay que vale cada segundo.
Obrigado por assistir, e nos vemos por aí!